domingo, 17 de julho de 2011

Uma Feira Familiar.

Eu e meu marido fomos hoje a uma feira, quase nada me atrai mais, do que uma feira deste tipo. Resumia-se a plantas ornamentais, orquídeas, artesanato variado, produtos provenientes de agroindústrias e produtos orgânicos.

            Há algumas décadas pelas povoações rurais era comum se encontrar empreendimentos onde se transformavam ou beneficiavam os produtos agrícolas. Lembro-me que próximo onde moro havia uma cervejaria que também fabricava refrigerante a base de guaraná, havia um moinho que descascava arroz cultivado pelos agricultores, moía o trigo e o milho por eles trazido, havia um açougue, uma atafona que fazia polvilho, farinha de mandioca, fábrica de manteiga que beneficiava o leite recolhido diariamente por carroças conduzidas por burros, recolhiam o leite lá de casa, também. As latas ficavam a beira da estrada e a estrada não passava de um caminho estreito pouco usado onde as árvores faziam túnel. A ervateira, que da escola se ouvia bater os pilões, seus empregados a cada ano passavam uma semana pelas roças do meu pai cortando os galhos das árvores de erva-mate. Estes, então eram levados para a ervateira, sapecados e triturados até aparência de chá triturado e então meu pai buscava a parte que lhe cabia para preparar seu chimarrão diário. Meu pai mesmo, tinha um alambique, onde a cana-de-açúcar plantada em suas terras e outra que ele comprava era transformada em    cachaça. Esta cachaça era levada dentro de um barril em uma carroça para uma cooperativa, distante vinte quilômetros, onde era engarrafada juntamente com a produção de outros alambiqueiros e posta no comércio.
            Num intervalo de décadas, estes empreendimentos fecharam por falta de familiares interessados em continuar o negócio ou por falta de viabilidade financeira. É o período em que entram as grandes indústrias, os monopólios e quebram economicamente estas pequenas empresas ou então são drasticamente lacradas por não estarem adequadas a questões de sanidade ou legais empurrando  dezenas de pessoas  que tinham uma função específica para a margem tornando-os assalariados num trabalho semi-escravo nas indústrias que vão se instalando nas vilas que se formam.Sem falar daqueles que não viam preços adequados na venda de seus produtos  agrícolas e eram seduzidos pelas promessas infundadas da cidade e para lá iam engrossar a fila da marginalidade amontoados em cortiços e favelas.Foi a fase em que se copiou o modo de comer,vestir e viver do exterior, ignorando-se a riqueza interna,desperdiçando-a, induzindo a dependência externa,lamentável.
            Ainda bem que se percebeu a grande besteira que estava se cometendo e começou-se a resgatar nossa cultura e nossa história e estes antigos empreendimentos familiares. Conseguiu-se resgatar onde ainda havia algum resquício do empreendimento ou alguém que quisesse de alguma forma ressuscitá-lo, mas isto nem sempre ocorreu. Grandes e promissores empreendimentos se perderam no tempo, outros, os familiares desacreditados de seu trabalho e pouco confiantes nesta nova oportunidade não se empenham em resgatar ou reiniciar.
            Mas o que fomos ver, olhar, degustar, foram o que muitas famílias resgataram e apostaram numa nova oportunidade podendo assim incrementar sua renda, melhorar seu nível de vida e vislumbrar uma história diferente para seus filhos. Famílias que se reuniram em cooperativas e associações e produzem sucos e vinhos orgânicos, chás, temperos e ervas medicinais orgânicos, conservas e doces, cachaças e licores. No artesanato transformam palha de milho, trigo, taboa, bananeira em objetos lindíssimos; trabalham a lã de ovelha transformando-a em peças de vestuário, acolchoados; um grupo de senhoras  resgatou o requinte e a beleza do bordado feito a mão. Nossas mães e avós tinham por hábito bordar todo o enxoval quando casavam. Um trabalho lindíssimo. Comprei uma linda toalha bordada. Talvez um dia tenha paciência e sapiência para bordar uma e deixar para meus filhos e netos.
            Outro dia conversando com uma pessoa ela me disse, em relação a propriedade rural, ou se é grande ou se é bosta .Para esta pessoa quero dizer que ela está totalmente equivocada e lançando mão de dados atuais do IBGE lhe informo que 70% dos alimentos consumidos no Brasil são oriundos da agricultura familiar e ela gera 70% dos empregos no meio rural, enquanto o agronegócio tem 90% de crédito disponibilizado, ocupa quase 80% das terras e gera apenas 30% de empregos no meio rural.
            Voltando aos empreendimentos familiares é um trabalho que me deixa realmente extasiada, sem palavras, porque eu acredito no potencial da produção agrícola da pequena propriedade e na capacidade e sabedoria de pessoas que realmente querem crescer, transformar a realidade onde vivem. Nossa terra é uma terra ímpar em capacidade de produção, é preciso apenas saber cuidar dela e cultivá-la, é uma pena que muitos não acreditam nesta verdade mas o que os dados mostram leva a pensar...

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